E, depois de quase desistir, recuperei o Fôlego.
Desde o final do ano passado, estava com dificuldades de manter minha rotina de escrita diária. Me convenci que era falta de tempo e prometi a mim mesma que me organizaria durante a viagem que fizemos em família, já que teríamos que enfrentar dois voos de mais ou menos doze horas cada e obviamente eu não teria sono para os dois. Bem, não só dormi os dois voos, como cheguei ao destino final às sete horas da noite, tomei banho, arrumei minhas coisas e dormi a noite inteira. No dia seguinte todos, com exceção das crianças, estavam reclamando de terem acordado às três da manhã por causa do fuso horário. Eu, por outro lado, tinha dormido a noite toda e ainda parecia não ter sido o suficiente.
Foi então que entendi o quão exausta eu estava e decidi tirar férias mesmo. E assim foi, não corri e não abri o meu computador durante os vinte e dois dias que estávamos viajando. E, apesar de estar correndo atrás do prejuízo para entrar de volta na rotina, não me arrependo nem um tiquinho.
Já era quase final de janeiro quando retornamos ao Brasil, e eu tinha uma lista de pendências para retomar: aulas atrasadas da pós-graduação, lista de material das crianças, criar um nome para minha newsletter e definir uma periodicidade para ela, revisar meu livro pela terceira vez, gravar um Podcast com uma amiga sobre o lançamento do seu álbum de música, ginecologista, dentista, pediatra, etc. Para não enlouquecer, ordenei as prioridades dentro da minha já existente lista de prioridades, e nela meu livro e a newsletter estavam bem longe das primeiras linhas.
Nesse período, numa das consultas médicas, descobri que meus hormônios tireoidianos estavam alterados de novo, o que possivelmente contribuiu para agravar o tanto de sono que tive durante a viagem e que também vinha impactando no meu dia a dia com falta de energia. Passados alguns dias ,com a dose ajustada, já me percebi mais ativa, dormindo melhor e com mais vontade de fazer as coisas. Mas ainda assim, minhas pendências não tinham diminuído da maneira como eu gostaria.
Tentei burlar minha própria lista e trabalhar na revisão do livro de vez em quando, mas não consegui. Abri e fechei o arquivo incontáveis vezes. Lia, relia, ficava olhando para a tela do computador, mas nada saia da minha cabeça. Não precisou muito para a autossabotadora que mora em mim dar as caras e piorar ainda mais a situação. “Para de perder tempo com isso”, “Essa história nem é tão boa assim”. Deixei de lado, mais uma vez, a revisão do meu livro.
Meados de fevereiro, a lista de pendências original de fato começou a diminuir. As crianças estavam de volta a escola, materiais estavam comprados, tínhamos ido aos médicos, o Podcast com a minha amiga havia sido gravado com sucesso e faltavam poucas aulas da Pós para eu estar dentro do cronograma.
Era hora de arregaçar as mangas e encarar meu livro. E mais uma vez, falhei. Toda vez que eu abria o arquivo e começava a ler, os questionamentos voltavam com força total. E por dias, não consegui encontrar palavras para escrever. Nem no meu livro, nem minha newsletter. O que mais me perturbava não era a falta de ideias, pois minha cabeça estava a mil por hora. Era a falta de confiança no que eu estava fazendo. Eu tinha as ideias, mas não conseguia colocá-las no papel. Tanto quanto minhas ideias, a autossabotagem também estava a mil por hora. Cheguei a considerar largar tudo e voltar para minha antiga carreira em marketing, ou seja, voltar para minha zona de conforto apesar de ser algo que não me fazia feliz.
E de repente, estávamos em março. Eu estava começando um curso de leitura crítica e copidesque, voltando a participar dos encontros da Escola de Escritoras, avaliando alguns textos para a Escola quando de um dia para o outro, em mais uma tentativa, me sentei na frente do computador e as palavras foram saindo, saindo, saindo. Quando os questionamentos começavam a querer bagunçar as letras, tive força o suficiente para mandarem se calar e me deixar em paz.
Retomei a revisão do livro, e confesso que agora com um outro olhar, mais aguçado e menos dramático. Voltei a escrever para minha newsletter e foi então que o nome surgiu com clareza: Fôlego. Precisei desse período de hiato na escrita para tomar fôlego e retomar com mais confiança. Me cobrei muito pois não entrava na minha cabeça como eu podia estar passando por isso, se tudo o que mais quis e quero na vida é escrever. Pois bem, até o que amamos fazer, às vezes nos cansa e nos assusta. E essa pausa foi mais do que necessária para que eu aprenda a ir domando as vozes da autossabotagem que habitam em mim e a me conhecer ainda mais. Sei que sou muito crítica comigo mesma e agora entendo que essa característica sempre vai estar comigo, mas o que preciso aprender é a não deixar me paralisar.
Minha newsletter está de volta, com muitas ideias e muito Fôlego para seguir adiante.
Imagem by Freepik