Quando falo para alguém que sou escritora normalmente me deparo com duas reações. A primeira é a pessoa se animar e dizer “nossa que legal!” e engajarmos uma conversa sobre o tema. A segunda é algo do tipo: ah, legal, mas você trabalha com o quê? Com o passar do tempo, tenho tentado não dar atenção a esse tipo de desconhecimento sobre o ser escritora (para não dizer, provocação). Entendi que uma grande maioria das pessoas tem dificuldade em aceitar e entender que é possível escolher carreiras “atípicas” fugindo das convencionais Administração, Engenharia, Direito e Medicina. Mas, isso fica para um outro papo.
Hoje, quero falar sobre o meu processo de escrita. As pessoas tendem a romantizar ou a achar que ser escritora é ter uma ideia divina que cai no nosso colo e pum, só sentar e sair escrevendo. Mas escrever também é treino, disciplina, rotina, pesquisa, leitura, muita leitura.
O livro infantil que publiquei, a Fada Lili, surgiu de uma situação engraçada que aconteceu na minha casa com meu filho mais velho. Passada a situação, que não vou falar aqui caso alguma criança esteja lendo, pensei que aquele acontecimento daria uma boa história e assim foi.
Para isso, o importante é criarmos repertório. Ler, ler, ler os mais variados gêneros. Visitar exposições, museus, assistir séries, filmes, OBSERVAR a vida acontecendo ao nosso redor. E sempre, sempre carrego um caderno e uma caneta para anotar insights que possa ter. Tenho usado também um gravador no celular, porque o lugar que mais tenho tido ideias é no trânsito, dirigindo. Muitas delas, não vão para frente e está tudo bem. Para mim, o que importa é dar vazão a todos as vozes que ficam matracando na minha cabeça e olha que são muitas!
Quando comecei a escrever o livro que estou finalizando nesse momento, não tinha estruturado muito bem como desenvolvê-lo. Tive uma ideia, pensei numa personagem principal e sai escrevendo. Durante esse processo, travei várias vezes, o famoso bloqueio criativo. Até que encontrei um editor, escritor e mentor que me ajudou me ensinando um processo que tem funcionado bastante para mim. Primeiro, escrevi em um parágrafo a ideia do livro. Depois, definimos as cenas de virada que aconteceriam ao longo da história. Na sequência, definimos todas as cenas, uma a uma, que formariam o livro. Ou seja, o esqueleto do livro estava pronto numa planilha antes que eu começasse a escrever o livro propriamente dito. Na hora de começar a desenvolver cada uma das cenas, eu já sabia de onde partir, o que minimizou quase a zero os brancos. Claro, que nada isso é engessado. Alguns acontecimentos foram mudando ao longo do livro, alguns personagens mudaram, mas a parte principal não. E invariavelmente tive mais dificuldade para escrever algumas cenas do que outras. Parar, pensar, escrever, parar. Sair de perto do computador, voltar outro dia.
Ao mesmo tempo, comecei a escrever um outro livro, onde a dinâmica de preparação é diferente desse. Tem uma estruturação inicial também que passa pela estruturação da trama, pela divisão da história em três atos, as cenas chaves e a definição dos personagens.
Uma das coisas mais importantes nesse processo para mim foi entender que a reescrita, a revisão é parte principal e crucia desse processo. E não estou falando ainda da revisão gramatical. Estou falando da revisão do que foi escrito. Mas também encontrar um equilíbrio em saber a hora de parar de mexer em uma cena e seguir adiante. O que tenho feito que tem funcionado é escrever, revisar uma vez e seguir. Ao final, com o manuscrito feito, voltar e revisar tudo, aparando as arestas. Por enquanto, tem funcionado, mas exige bastante determinação em seguir adiante, pois sempre esperamos ter a cena perfeita.
Esse é um pouco do meu processo de escrita. E ai gostou? Tem alguma curiosidade sobre isso que queira me perguntar? Fique a vontade, será um prazer te responder.
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