Outro dia escrevi um texto falando sobre minhas angústias em relação a que mundo vamos deixar para nossos filhos. Hoje, falarei mais um pouco sobre filhos, especificamente sobre adolescência. Já adianto que tudo o que trarei aqui são percepções e experiências minhas como mãe, sem embasamento científico, só embasamento vivido mesmo.
Quando nossos filhos são pequenos temos a tendência a estar sempre esperando a próxima descoberta ou marco de evolução: a hora que vão engatinhar, a primeira palavra, a hora que vão andar e assim por diante. Até que chegamos na pré-adolescência. Daí os sentimentos viram um rebuliço e queremos que o tempo pare, ou melhor, ande para trás. Dá uma saudade deles pequenos! Começamos a nos perguntar quando foi que o tempo passou tão rápido.
Os problemas e questionamentos passam a ser muito mais complexos do que qual frutinha ele mais gostou na introdução alimentar. A porta do quarto deles passa a ficar fechada com uma certa frequência. Quando perguntamos se está tudo bem ou como foi na escola a resposta é sempre “tudo bem”. Ser adolescente não é fácil, todos nós já passamos por isso. Mudança constante de humor, corpo mudando, sentimentos que não sabemos lidar. A busca por pertencer a um grupo sem nem saber qual é o nosso grupo. E apesar de entender tudo isso, ser mãe de adolescente também traz muitos desafios. Qual o equilíbrio entre dar espaço e liberdade e impor limite? Essa é uma fase em que temos que sempre nos lembrar que dizer não é um ato de amor. Que por mais que eles revirem os olhos, venham com a máxima “mas a mãe do fulano deixa” ou batam a porta do quarto, nada disso tem a ver com o amor que sentem por nós. Sim, eu sei, muitas vezes a batida da porta dói e dói muito. Pro outro lado, passamos a ter parceiros de conversas, a nos encher de orgulho com as conquistas e amadurecimento que vemos dia a dia, situação a situação. Aqui em casa presamos muito por tempo com eles. Seja um almoço, um lanche ou trinta minutos presos no trânsito. Vale pegar uma música e cantarmos juntos, pedir para que me expliquem sobre algum jogo que gostam ou tentar algum esporte em comum.
Aqui, por enquanto seguimos construindo caminhos para atravessar essas pontes que insistem em aparecer. Às vezes as pontes são longas, escorregamos de volta para o começo mas, com calma e muita paciência vamos atravessando de pouquinho em pouquinho, até chegar do outro lado.
Como escritora, leio muito. Sempre gostei de ler, mas para escrever, ler é ainda mais primordial. Dia desses, me deparei com um livro sensacional sobre esse assunto que se chama “Imagina na Adolescência, da Thais Vilarinho”. No livro ela traz diversas situações corriqueiras que acontecem em sua casa exemplificando os desafios e alegrias de termos filhos na adolescência de uma forma magnífica. Oscilei o livro todo entre lágrimas e risadas. O livro dela traz uma paz no coração de que não estamos sozinhas nessa jornada e que todas estamos aprendendo a ser mãe de adolescentes.
O mais difícil para mim é, como todos da minha geração, ter que além de tudo isso lidar com as questões tecnológicas. Os celulares, os aplicativos, com quem estão falando, o que estão assistindo. Antigamente, quando estávamos dentro de casa, estávamos seguros aos perigos do mundo exterior. Hoje, nem dentro de casa eles estão seguros e isso é angustiante. Toca uma dose extra de conversa, de explicações, de demonstrações diárias dos perigos que estão ali na mão deles, basta um clique.
Sinceramente não vejo forma melhor do que, além de explicar tudo o que falei até aqui, limitar o uso mesmo. É um caminho árduo, onde muitas vezes eu que pareço a louca jurássica e avessa a tecnologia. Longe de mim ser contra a tecnologia, mas sou sim contra essa exposição excessiva. Dia desses me peguei dando pulos de alegria ao ler uma reportagem de que várias escolas estão trancando os celulares na hora que as crianças chegam e só devolve quando vão embora. Excelente iniciativa. Óbvio que para mim é cômodo que eles levem os celulares, pois vão de transporte e assim posso monitorar onde estão no caminho entre casa/escola/casa. Mas, dentro da escola eles não precisam e não devem usar o celular. Lá, o lance é socializar, correr, conversar.
A gente se esconde atrás da sensação de estarmos conectados e podermos falar com quem quisermos a hora que quisermos, mas nada substitui o olho no olho, o abraço, a gargalhada, até mesmo as discussões e brigas. A adolescência é um período cheio de dúvidas e descobertas e fazer tudo isso atrás de uma câmera ou de aplicativos é muito mais complicado.